Tom Cruise luta contra IA vilã em 'Missão: Impossível' que soa como despedida

Não se faz mais blockbuster como antigamente. Ao menos, é o que as últimas pegadas deixadas por Tom Cruise no tapete vermelho de Cannes sugerem.

Há dois anos, ele esteve na mostra de cinema mais importante do mundo ressuscitando o hit oitentista “Top Gun“. Agora, retornou com o clássico noventista “Missão: Impossível“, franquia à qual recorre de tempos em tempos nos últimos 30 anos.

Grande chamariz desta edição do Festival de Cannes, “Missão: Impossível – O Acerto Final” soa como uma despedida de seu Ethan Hunt da bilionária série de filmes sobre agentes secretos, a resposta americana ao sucesso de “007” –e, portanto, menos elegante e mais desvairada, com suas maletas que imprimem máscaras realistas e acrobacias mirabolantes.

As sequências inventivas se repetem no oitavo filme da franquia, com Cruise novamente dispensando dublês para atuar em cenas de ação práticas, com uso limitado de efeitos especiais e, portanto, de alta periculosidade. Aqui, ele mergulha em apnéia e caminha entre as asas de um avião em movimento.

Uma cena que quase lhe custou a vida, contou o diretor de “O Acerto Final”, Christopher McQuarrie, durante sua passagem por Cannes, onde o filme foi exibido em sessão especial uma semana antes de chegar às salas de cinema. “Ninguém na Terra faz o que o Tom faz”, afirmou o americano.

Cruise, na cena que McQuarrie explicava, contrariou as recomendações do diretor de dublês, que queria encerrar a filmagem do salto de um lado para o outro do avião depois de 12 minutos de tentativas, o máximo de tempo que julgaram seguro para seu corpo aguentar as rajadas de vento antes de entrar em colapso. Cruise acabou preso numa das asas, enquanto o combustível se esgotava, mas conseguiu voltar à cabine a tempo.

“Eu pilotei helicópteros e aviões para gravar essas cenas, precisei de décadas de aprendizado e treinamento. Meu trabalho inclui entender as responsabilidades, as liberdades e as barreiras de contar histórias como esta”, afirmou Cruise, que é avesso a entrevistas, mas apareceu de surpresa numa sabatina que o Festival de Cannes fez com McQuarrie.

“Eu tenho curiosidade pelo desconhecido, é assim que eu me sinto em relação a cenas de dublê ou em relação à vida e a fazer filmes”, continuou o ator, que também produz “O Acerto Final”. “Quando se faz um filme, as pessoas podem vir com milhões de opiniões e invalidações, e eu sempre digo, é melhor tentar do que sentar e ficar pensando em como seria.

“Esse discurso e histórias como a do avião contribuíram para firmar “Missão: Impossível” como uma das maiores franquias de ação da história de Hollywood. Para além do resultado na tela, a mitologia em torno do preparo físico e da entrega de Cruise ajudaram no sucesso –mas, aos 62 anos, o ator dá sinais de que pode rasgar a carteirinha de agente secreto.

Nem ele, nem McQuarrie –que também o dirigiu nos antecessores “Acerto de Contas Parte Um”, “Efeito Fallout” e “Nação Secreta”– dizem se este capítulo será o último, mas sua trama soa como tal. A começar pela abertura, um flashback que mais parece uma apresentação de slides, com as melhores cenas da franquia divididas em momentos românticos, vilões perversos e situações de quase morte.

Os “easter eggs”, menções ao cânone escondidas ao longo de “Acerto Final”, continuam por quase três horas, e o tom de melodrama no encerramento também contribui para a percepção de que Hunt contempla a aposentadoria. Mas com Cruise nada é certo, e sua tendência em fugir de perguntas sobre o assunto passa a mensagem de que ele estaria disposto a aceitar uma nova missão.

Um entrave, porém, podem ser as tarifas que Donald Trump quer cobrar de filmes gravados fora dos Estados Unidos. Uma das pecinhas que compõem a alma de “Missão: Impossível”, afinal, é a disposição do protagonista em viajar de um país a outro sempre que tenta salvar o mundo –no caso atual, Inglaterra e África do Sul aparecem como cenários.

Mesmo assim, Cruise se recusou a responder a uma pergunta sobre a medida falsamente protecionista –vista mais como retaliação a uma Hollywood que costuma apoiar os democratas– durante a turnê do novo filme pela Coreia do Sul.

As viagens feitas por seu Ethan Hunt no novo capítulo são parte do plano para derrotar a Entidade, uma inteligência artificial que ganhou consciência no último filme da saga, “Acerto de Contas Parte Um”, e que inspira seguidores ao espalhar fake news e discursos radicais na internet.

Prestes a sequestrar os sistemas que controlam o armamento das nações que possuem ogivas nucleares, a vilã invisível força Ethan Hunt a encontrar o submarino onde seu código-fonte foi armazenado, para pôr um fim à ameaça.”O Acerto Final”, porém, deixa claro que os verdadeiros vilões são, em essência, a raça humana. A IA não faz nada além de aprender com os registros do nosso comportamento, que pende para o conflito –não há menção a elas, mas as guerras em curso na Ucrânia e em Gaza tornam o contexto atual propício para o lançamento do filme.

Personagens do passado retornam para ajudar Hunt, dos onipresentes Benji e Luther, interpretados por Simon Pegg e Ving Rhames, respectivamente, àqueles que Hayley Atwell, Pom Klementieff, Angela Bassett e Rolf Saxon assumiram ao longo da franquia.

Na première em Cannes, “O Acerto Final” foi recebido calorosamente, apesar de os críticos do festival terem se dividido, em especial por causa das duas horas e 50 minutos de duração. Sua chegada ao tapete vermelho, também, foi mais modesta que aquela de “Top Gun: Maverick”, da mesma Paramount –uma banda tocando o icônico tema, contra caças aéreos pintando o céu de Cannes com as cores compartilhadas por França e Estados Unidos.

Fãs da franquia, porém, devem ficar satisfeitos com “O Acerto Final”. Há tempo de sobra para autorreferência e cenas delirantes, nas quais “Missão: Impossível” se fundamenta desde 1996, quando Cruise ficou suspenso por cabos dentro de uma sala de segurança máxima, desviando de lasers e abrindo caminho para o personagem se eternizar no cinema americano.

Colaborou Alessandra Monterastelli

noticia por : UOL

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