Morreu na tarde desta terça-feira (22) o bicheiro José Caruzzo Escafura, o Piruinha, figura antológica da zona norte do Rio e o mais antigo contraventor da alta cúpula do jogo do bicho.
Piruinha faleceu, aos 95 anos, em sua residência na Barra da Tijuca. Ele recém havia recebido uma alta médica, depois de ficar 10 dias internado tratando uma pneumonia no Hospital Vitória.
A morte foi confirmada por Joaquim Queiroga Neto, amigo e advogado do contraventor, e pela escola de samba Portela –que já fora dirigida por Luís Carlos Escafura, um dos 27 filhos do bicheiro.
Paciente e sábio na seleção das palavras, Escafura popularizou soube destacar seu nome nos espaços da boemia fluminense.
Além de seu envolvimento com o Bicho, atividade que, segundo o próprio, tem relação desde os 10 anos de idade, Piruinha era ligado ao samba carioca. Era proprietário da casa de shows Sambola, na Abolição. Seu neto, Júnior Escafura, é hoje vice-presidente da Portela.
Piruinha trabalhou, segundo disse em variados relatos à imprensa, como jornaleiro, engraxate, cobrador e motorista de lotação. Se envolveu com o jogo ainda na década de 60, quado passou a controlar as bancas situadas nas regiões de Madureira, Cascadura, Abolição, Inhaúma e Maria da Graça.
Em agosto de 2006, concedeu entrevista à Folha. Disse ser respeitado e considerado pela bandidagem carioca –declaração dada num momento em que o adesivo de seu haras, pregado em carros, botava medo a ladrões no Rio.
Pessoas que sequer conheciam Piruinha à época usavam o adesivo por motivos de segurança. Conforme reportagem da Folha do mesmo ano, até a Polícia Militar recomendava o uso do adesivo.
“Vão querer me ligar ao banditismo, não tem nada a ver. Sou bicheiro e dono de haras de cavalos de corrida, porque não paga imposto. Tenho mais de cem cavalos lá, em Teresópolis. O adesivo, mandei fazer há uns dois anos, para divulgar o haras”, fez questão de destacar à época.
Na década de 90, foi um dos 14 bicheiros presos e condenados por formação de quadrilha ou grupo armado. Recebeu pena máxima para o crime, de seis anos.
Também conhecido como “Seu Zé”, Escafura participou do documentário ‘Vale o Escrito’ –Globoplay–, que revela origens e trajetória do jogo do bicho no Rio de Janeiro.
Na peça, declara ter tido mais de 100 mulheres e ser o único banqueiro –isto é, dono de banca do jogo do bicho– declarado.
Há dois anos, esteve novamente preso após acusação de homicídio contra um vendedor de carros, em 2021, na zona oeste. Foi na prisão que seu estado de saúde começou a se deteriorar, depois de sofrer uma queda. Progrediu para prisão domiciliar com uso de tornozeleira, mas em 2023 foi internado com uma pancreatite.
Ainda não há informações sobre o velório do bicheiro.
Entre os longevos bicheiros, restam vivos Aniz Abraão David, o Anísio, e Aírton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães.
noticia por : UOL